Protestos da Geração Z em Marrocos contra gastos para Copa do Mundo deixam mortos e feridos
02/10/2025
(Foto: Reprodução) Manifestantes ateiam fogo em edifício durante manifestações contra o governo em Salé, na região metropolitana de Rabat, no Marrocos, em 1° de outubro de 2025.
Abdel Majid Bziouat/AFP
Manifestações da Geração Z contra o governo de Marrocos deixaram três mortos, mais de 300 feridos e centenas de presos nos últimos dias. Os jovens protestam contra gastos para a Copa do Mundo e exigem maiores investimentos em Saúde e Educação.
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Os protestos começaram no último sábado, ainda no final de setembro, e foram ganhando força ao longo dos dias. As manifestações na noite de quarta-feira (1°) foram as mais violentas até o momento, em que as primeiras mortes foram confirmadas.
Duas pessoas morreram e outras ficaram feridas em Lqliaa, cerca de 470 km a sudeste da capital Rabat, quando policiais dispararam contra manifestantes que tentavam roubar seus armamentos, segundo autoridades locais. Na região metropolitana de Rabat, manifestantes quebraram lojas e atearam fogo a carros e edifícios. Veja mais abaixo locais onde protestos foram registrados.
O primeiro-ministro marroquino, Aziz Akhannouch, afirmou nesta quinta-feira (2) que o número de mortos nos protestos subiu para três, porém não disse onde ocorreu a nova morte. O Ministério do Interior marroquino anunciou que as manifestações já deixaram 354 feridos, sendo 28 civis e 326 membros das forças de segurança. Ao menos 409 manifestantes foram presos, segundo dados de quarta.
👉 Força da juventude: Assim como em outros lugares do mundo, as manifestações em Marrocos foram organizadas majoritariamente por jovens da "Geração Z". Esse é o nome popular dado às pessoas nascidas entre 1995 e 2009, com algo entre 16 e 30 anos.
Marrocos será um dos países que receberá, junto com Espanha e Portugal, a Copa do Mundo de futebol em 2030. De forma similar ao que ocorreu no Brasil antes da Copa de 2014, os manifestantes marroquinos pedem maiores reformas sociais no país.
Os protestos foram organizados online por um grupo juvenil anônimo e de formação flexível, autodenominado "GenZ 212". O grupo utilizou plataformas como TikTok, Instagram e o aplicativo de mensagens Discord para mobilizar apoio.
O movimento "GenZ 212" é inspirado em protestos semelhantes liderados por jovens na Ásia e na América Latina. O número de membros no servidor do Discord do GenZ 212 aumentou de cerca de três mil na semana passada para mais de 130 mil hoje, refletindo o rápido crescimento do movimento juvenil de protestos.
As autoridades inicialmente tentaram reprimir os protestos, mas as manifestações evoluíram para distúrbios generalizados na noite de terça-feira. Imagens da Reuters mostraram forças de segurança cercando os manifestantes e os levando à força para dentro de vans.
Jovem é detido por forças de segurança durante protestos da Geração Z em Salé, em Marrocos, em 1° de outubro de 2025.
AP Photo/Mosa'ab Elshamy
A taxa de desemprego em Marrocos é de 12,8%, com desemprego juvenil chegando a 35,8% e 19% entre graduados, segundo a agência nacional de estatísticas.
Embora Marrocos tenha registrado protestos pacíficos recorrentes por questões econômicas e sociais, os distúrbios desta semana são os mais violentos desde as manifestações de 2016 e 2017, que ocorreram na região do Rif, no norte do país.
O Ministério do Interior marroquino afirmou que respeitaria o direito de protestar dentro dos limites legais e se comprometeu a agir com “contenção e autocontrole, evitando provocações”. Akhannouch elogiou a atuação policial e disse nesta quinta que "o diálogo é a única maneira de resolver os problemas".
Na terça-feira, em publicações nas redes sociais sobre os protestos, o grupo “GenZ 212” disse rejeitar a violência e se comprometeu a continuar com protestos pacíficos. O grupo afirmou não ter problemas com as forças de segurança, apenas com o governo marroquino.
Das 409 pessoas detidas pela polícia até agora, 193 irão a julgamento sob acusações que incluem incêndio, saques e ataques a forças de segurança, segundo o promotor.
Onda de revolta juvenil
Jovens da Geração Z de Marrocos protestam contra o governo na capital Rabat em 1° de outubro de 2025.
AP Photo/Mosa'ab Elshamy
Na noite de quarta-feira, a violência se espalhou para Salé, na região metropolitana da capital Rabat, onde grupos de jovens em bairros densamente povoados lançaram pedras contra a polícia, saquearam lojas, incendiaram bancos e veículos policiais, segundo testemunhas.
Em Tânger, no extremo norte do país e perto do Estreito de Gibraltar, jovens lançaram pedras contra as forças de segurança.
Cidades menores na região de Souss, no sudeste do país e próxima a Agadir, registraram alguns dos distúrbios mais intensos pela segunda noite consecutiva na quarta: em Sidi Bibi, jovens mascarados queimaram a sede da comuna e bloquearam uma estrada principal; já em Biougra, um banco foi saqueado e lojas foram danificadas.
“Eu estava no café assistindo ao jogo Barcelona x PSG quando jovens começaram a lançar pedras nas lojas. Continuamos assistindo ao jogo dentro do café fechado”, disse Abdeslam Chegri, ativista da sociedade civil local.
Polícia dispersa multidão em protesto de rua da Geração Z contra o governo em Salé, em Marrocos, em 1° de outubro de 2025.
AP Photo/Mosa'ab Elshamy
O polo turístico de Marrakech, em Marrocos, também registrou confrontos violentos, com manifestantes incendiando uma delegacia de polícia, segundo a mídia local "LeDesk".
A recente onda de raiva juvenil foi desencadeada por protestos anteriores em Agadir sobre as condições precárias de hospitais, que rapidamente se espalharam para outras cidades.
Em Taroudant, geralmente uma cidade tranquila a leste de Agadir, manifestantes entraram em confronto com forças de segurança, atacaram lojas e queimaram carros.
Em contraste, manifestações pacíficas ocorreram em Casablanca, capital econômica de Marrocos, e nas cidades orientais de Oujda e Taza.
Nessas cidades, os manifestantes pediam a renúncia do primeiro-ministro Aziz Akhannouch e gritavam slogans como “O povo quer o fim da corrupção”.
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