Na contramão de pressão internacional, ministro de Israel sugere anexar partes de Gaza
31/07/2025
(Foto: Reprodução) Palestinos carregam suprimentos de ajuda que entraram em Gaza através de Israel, em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, em 27 de julho de 2025.
REUTERS/Dawoud Abu Alkas
Na contramão da pressão internacional por uma solução de dois Estados, o governo de Israel debate a possibilidade de anexar territórios palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
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A anexação de partes de Gaza foi mencionada pelo ministro da Segurança israelense, Zeev Elkin, como uma estratégia para ampliar a pressão sobre o Hamas para forçar o grupo terrorista a aceitar um cessar-fogo na guerra, travada desde outubro de 2023, com termos que favoreçam Israel.
“O mais doloroso para o nosso inimigo é perder terras. Israel poderia esclarecer ao Hamas que, no momento em que fizerem joguinhos, perderão terras que nunca mais recuperarão”, disse Elkin.
Além de Gaza, o Parlamento israelense aprovou na semana passada uma moção que considera a Cisjordânia parte de Israel, "em oposição à criação de um Estado palestino". O texto aprovado pede a anexação do território palestino, porém, tem caráter simbólico e não tem efeito prático. No entanto, ocorre em meio a uma crescente expansão dos assentamentos judeus na Cisjordânia, considerados ilegais.
O debate dentro de Israel ocorre em meio à crescente mobilização diplomática por parte de potências ocidentais por conta da crise humanitária, com fome em níveis inéditos, dos palestinos em Gaza. (Leia mais abaixo)
A França e o Canadá anunciaram que reconhecerão a existência do Estado Palestino em setembro, e o Reino Unido também sinalizou pelo reconhecimento, a menos que Israel se comprometa com o fim da ocupação e com medidas humanitárias concretas.
Israel repudiou os anúncios dos três países e afirma que reconhecer a existência do Estado Palestino neste momento seria uma recompensa ao terrorismo do Hamas. O grupo terrorista foi responsável por ataques em 7 de outubro de 2023, que mataram mais de 1.200 israelenses e 250 foram levados reféns. Desde então, o cerco militar israelense em Gaza provocou a morte de mais de 60 mil palestinos, segundo autoridades locais.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou na segunda-feira que a anexação gradual da Cisjordânia por Israel é ilegal e repudiou a destruição em larga escala de Gaza. Guterres também criticou as discussões israelenses por anexação: "Ações unilaterais que comprometam de forma permanente a solução de dois Estados são inaceitáveis. Elas devem parar."
A proposta de anexação territorial ganhou força no Parlamento israelense, com parlamentares do Likud aprovando resoluções que preveem a incorporação da Cisjordânia e uma eventual reinstalação de colônias judaicas em Gaza. Ministros da ala ultranacionalista, como Bezalel Smotrich, defendem publicamente a anexação total dos territórios palestinos.
Nos bastidores, ideias como a sugerida pelo presidente Donald Trump — de transformar Gaza na “Riviera do Oriente Médio” — voltam a circular.
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Pressão internacional se intensifica
Fome extrema em Gaza
Reuters e AFP
Em meio ao impasse, o cenário humanitário se agrava. O IPC, órgão internacional que monitora crises alimentares, alertou para o risco iminente de fome em larga escala na Faixa de Gaza. As negociações por um cessar-fogo permanecem paralisadas, enquanto emissários internacionais tentam desbloquear as tratativas.
O empresário imobiliário e uma das figuras mais próximas de Donald Trump, o norte-americano Steve Witkoff, deve visitar Tel Aviv na quinta-feira (31) para avaliar alternativas para a libertação de reféns israelenses ainda mantidos em Gaza.
A pressão internacional se intensifica. Uma coalizão de 15 países aprovou a proposta franco-saudita por medidas irreversíveis rumo à criação de dois Estados. Catar e Egito apoiam a transferência da administração de Gaza à Autoridade Palestina, hoje restrita à Cisjordânia. Israel e Estados Unidos boicotaram a conferência, reafirmando sua oposição ao reconhecimento unilateral do Estado palestino.
Especialistas alertam para o risco de uma nova “Nakba”, como é chamada a expulsão em massa de palestinos em 1948. Para comunidades afetadas, o reconhecimento do Estado palestino representa não apenas um símbolo político, mas a possibilidade concreta de romper ciclos históricos de violência e ocupação.