Governo Trump autoriza ações secretas da CIA e 'operações letais' na Venezuela, diz jornal
15/10/2025
(Foto: Reprodução) EUA bombardeiam barco perto da costa da Venezuela
O governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, autorizou ações secretas da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) na Venezuela. As informações foram divulgadas pelo jornal “The New York Times” nesta quarta-feira (15), com base em relatos de autoridades norte-americanas.
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A ação representa mais uma investida norte-americana contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusado pelos EUA de liderar o Cartel de los Soles — grupo classificado recentemente pelo governo Trump como organização terrorista internacional envolvida no tráfico de drogas.
Segundo o jornal, as operações autorizadas podem incluir “ações letais” e outras iniciativas da inteligência americana no Caribe. Ainda não está claro se a CIA já planejou alguma operação na Venezuela ou quando elas poderão ocorrer.
Os Estados Unidos e a Venezuela vivem uma escalada de tensões. Em agosto, o governo norte-americano anunciou o envio de navios e aeronaves militares para o Caribe, em uma área próxima à costa venezuelana, alegando uma operação contra o tráfico internacional de drogas.
No mês passado, a imprensa americana informou que o governo Trump avalia uma operação que pode resultar em ataques à Venezuela. Estruturas ligadas a cartéis de drogas estariam entre os possíveis alvos. Autoridades também dizem que o objetivo final seria tirar Maduro do poder.
Em agosto, o Departamento de Justiça ofereceu uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão do presidente venezuelano.
O New York Times afirmou que ações secretas da CIA dificilmente se tornam públicas. Integrantes do Congresso geralmente são informados sobre essas operações, mas estão proibidos de divulgar detalhes.
Uma das exceções foi a operação de 2011 que resultou na morte do terrorista Osama bin Laden, responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001. A ação, no entanto, só foi anunciada pelos Estados Unidos após ser concluída.
O jornal também lembrou que ações da CIA são comuns na América Latina desde o século passado, citando como exemplo o envolvimento da agência em golpes de Estado que levaram à instalação de ditaduras militares no Brasil e no Chile.
Operações no Caribe
Imagem mostra o presidente dos EUA, Donald Trump (E), em Washington, DC, em 9 de julho de 2025, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), em Caracas, em 31 de julho de 2024.
AFP/Jim Watson
Desde setembro, os Estados Unidos vêm bombardeando barcos que, segundo o governo, pertencem a organizações narcoterroristas envolvidas no transporte de drogas para o território norte-americano. Ao todo, 27 pessoas morreram nos ataques.
O bombardeio mais recente foi autorizado na terça-feira (14), quando militares atingiram um barco em águas internacionais próximas à costa da Venezuela. Seis pessoas morreram, segundo Trump.
"A inteligência confirmou que a embarcação estava traficando narcóticos, estava associada a redes ilícitas de narcoterrorismo e transitava por uma rota conhecida de organização terrorista", publicou o presidente em uma rede social.
Essas operações, no entanto, têm sido alvo de críticas de entidades internacionais. A Human Rights Watch afirmou que os bombardeios violam a lei internacional por se tratar de "execuções extrajudiciais ilegais".
O tema também foi discutido no Conselho de Segurança da ONU na sexta-feira (10), que levantou preocupações sobre a execução de civis sem julgamento, além da possibilidade de uma escalada militar na região.
Já o governo da Venezuela pediu para que a comunidade internacional investigue os ataques, afirmando que as vítimas — que os EUA alegam ser narcotraficantes — eram apenas pescadores.
Escalada
EUA bombardearam barco em área próxima da costa da Venezuela
Governo dos EUA
Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o aparato enviado pelos EUA ao sul do Caribe é incompatível com uma operação militar para combater o tráfico de drogas.
"Se você olhar o tipo de equipamento que foi enviado para a Venezuela, não é um equipamento de prevenção ou de ação contra o tráfico, ou contra cartéis", aponta o cientista Carlos Gustavo Poggio, professor do Berea College, nos EUA.
Maurício Santoro, doutor em Ciência Política pelo IUPERJ e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, avalia que os EUA podem estar se preparando para uma intervenção militar na Venezuela.
“É uma situação muito semelhante àquela do Irã, alguns meses atrás. O volume de recursos militares que os Estados Unidos transferiram para o Oriente Médio naquela ocasião, e agora para o Caribe, são indicações de que eles estão falando sério”, disse.
Veja a seguir o que se sabe sobre a operação dos EUA:
Pelo menos sete navios dos EUA foram enviados para o sul do Caribe, incluindo um esquadrão anfíbio, além de 4.500 militares e um submarino nuclear. Aviões espiões P-8 também sobrevoaram a região, em águas internacionais.
A operação se apoia no argumento de que Maduro é líder do suposto Cartel de los Soles, classificado pelos EUA como organização terrorista.
Os EUA consideram o presidente venezuelano um fugitivo da Justiça e oferecem recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão dele.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, se recusou a comentar objetivos militares, mas disse que o governo Trump vai usar "toda a força" contra Maduro.
O site Axios revelou que Trump pediu um "menu de opções" sobre a Venezuela. Autoridades ouvidas pela imprensa americana não descartam uma invasão no futuro.
Trump vem se recusando a comentar se irá ordenar um ataque direto ao território venezuelano. Por outro lado, o presidente já autorizou que militares atirem contra caças da Venezuela que oferecerem risco à operação americana.
Enquanto isso, Caracas vem mobilizando militares e milicianos para se defender de um possível ataque. Civis também estão sendo treinados.
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