BC diz que juro alto já contribui para desaceleração da atividade e que impacto na geração de empregos deve se aprofundar
13/05/2025
(Foto: Reprodução) Análises constam na ata da última reunião do Copom, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi elevada para 14,75% ao ano — o maior nível em quase duas décadas. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avaliou nesta terça-feira (13) que o processo de elevação dos juros, promovido nos últimos meses para conter a inflação, já tem contribuído e "seguirá contribuindo para a moderação de crescimento".
A informação consta na ata da última reunião do Copom, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi elevada para 14,75% ao ano — o maior nível em quase duas décadas. Foi a sexta alta seguida.
Copom eleva taxa básica de juros para 14,75%, o maior nível em quase 20 anos
O BC informou, ainda, que o impacto da elevação da taxa básica de juros no mercado de trabalho, que já está sendo observada, deve se intensificar. Em março, por exemplo, foram criadas 71,6 mil vagas formais de emprego, com queda de 71% frente ao mesmo período do ano passado.
"Ressaltou-se que a inflexão no mercado de trabalho também é parte do mecanismo de política monetária [alta do juro] e deve se aprofundar ao longo do tempo, de modo compatível com um cenário de política monetária restritiva", acrescentou o Banco Central.
O BC tem dito claramente que uma desaceleração, ou seja, um ritmo menor de crescimento da economia, faz parte da estratégia de conter a inflação no país. Avalia que isso é um "elemento necessário para a convergência da inflação à meta".
Na última reunião do Copom, na semana passada, ao contrário de encontros anteriores, o Banco Central não deu indicações de que deve continuar subindo a taxa Selic.
O BC informou apenas que se manterá vigilante e a "calibragem" (ritmo) do aperto monetário apropriado (alta do juro) seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação para as metas.
Na última semana, segundo pesquisa divulgada nesta segunda-feira pelo próprio BC, o mercado financeiro deixou de acreditar em novos aumentos da taxa Selic neste ano. Os analistas, agora, projetam manutenção do juro em 14,75% ao ano até o fim de 2025.
O mercado financeiro também projeta um ritmo menor de crescimento da economia neste ano. Os economistas estimam uma expansão de 2% em 2025, contra uma alta de 3,4% no ano passado.
Banco Central é o responsável por definir a taxa de juros
Flickr do Banco Central
Entenda como age o BC
🔎A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.
Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções estão em linha com as metas, pode baixar os juros. Se estão acima, tende a manter ou subir a Selic.
Desde o início de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo de 3% será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o segundo semestre de 2026.
Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial está em 5,51% (com estouro da meta), 4,5%, 4% e em 3,80%. Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.
Na ata do Copom, divulgada nesta terça-feira, o BC informou que está projetando uma inflação oficial de 4,8% neste ano e de 3,6% em 2026.
O BC admitiu recentemente que a meta de inflação pode ser novamente descumprida em junho deste ano, ao completar seis meses seguidos acima do teto de 4,5%.
Veja outros recados do Copom
O cenário prospectivo (esperado) de inflação segue "desafiador" em diversas dimensões. "As expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, mantiveram-se acima da meta de inflação em todos os horizontes, tornando o cenário de inflação mais adverso". Acrescentou, ainda, que o "cenário de inflação de curto prazo segue adverso", com a inflação de serviços acima do nível compatível com o cumprimento da meta.
O cenário externo mostra-se "adverso e particularmente incerto". O BC observa que o choque de tarifas e o choque de incerteza, apesar de todas as tentativas de mensuração, ainda são de impacto bastante incerto. Nesta segunda-feira (12), após semanas de tensão, os EUA e a China anunciaram que concordaram em reduzir temporariamente as chamadas "tarifas recíprocas" entre os dois países durante 90 dias.
O Copom avaliou que o crédito consignado ao setor privado, com garantia do FGTS, modalidade que teve início em março, terá algum "impacto sobre o crescimento", mas "majoritariamente por meio de uma elevação de renda disponível a partir da troca de dívidas". "Ainda há muita incerteza sobre qual será o efeito total do programa, que ainda se encontra em período inicial, então o Comitê acompanhará os dados atentamente para refinar os impactos estimados sobre o mercado de crédito e sobre a atividade", concluiu.
O BC reforçou que um estímulo significativo (sobre a demanda) nos últimos anos adveio da política fiscal, ou seja, sobre a alta de gastos do governo. "O Comitê avalia que uma política fiscal que contribua para a redução do prêmio de risco e atue de forma contracíclica contribui para a convergência da inflação à meta", avaliou.